16 de ago. de 2011

Chega(da) da Budweiser no Brasil!

A AmBev está trazendo ao mercado brasileiro uma das cervejas que está, sem dúvidas, entre as principais responsáveis pela alienação do consumidor comum de cerveja: a Budweiser. Talvez essa afirmação possa parecer demonizar demais a marca, mas não se pode negar a importância dessa cerveja dentro do portfólio da InBev, que controla a AmBev e é responsável por um enorme pedaço do mercado e produção mundial de cerveja, através de suas "american lager" (que muitas vezes encontramos aqui no Brasil,  rotuladas erroneamente, como "pilsen"). 
 
Além da importância no portfólio da companhia, não podemos deixar de mencionar o impacto desse rótulo e do crescimento de sua presença em escala mundial. Um dos maiores e principais efeitos é o aspécto cultural : cervejas como a Budweiser contribuíram, e muito, para a tendência que percebemos hoje - a consolidação de um estilo mundial de cerveja padrão, cuja maior característica é a alta drinkability, em decorrência da ausência de complexidade de características sensoriais. 
 
Extremismo contra as american lagers? Não (ou melhor, nem tanto). Reconhecemos que, assim como qualquer estilo de cerveja, elas também têm o seu momento, seu objetivo e boa parte dos rótulos desse estilo, justamente por sua altíssima capacidade de padronização e repetibilidade, entregam com perfeição aquilo a que se propõem. O ponto é muito mais a estratégia de introdução desses rótulos, que consiste basicamente em ações de marketing que nada são inspiradas pelas características do produto, aliadas à distribuição em massa de informações incorretas, imprecisas e, em alguns casos, até mesmo maliciosas. 
 
No Brasil, cenário em que a AmBev reina suprema (controlando por volta de 70% do mercado) e a propaganda de cerveja representa 80% de toda a propaganda de bebidas alcoólicas veiculadas na TV, a base do discurso é a desinformação. São propagandas que enganam o consumidor, informações infiéis sobre o processo de fabricação, dados incorretos nos rótulos sobre a cerveja oferecida dentro da garrafa, condutas abusivas contra cervejarias menores, enfim, uma verdadeira desajuda à cultura cervejeira. 
 
Voltando ao assunto, chega a Budweiser no Brasil! 
 
Em declarações, o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da AmBev, Nelson Jamel, disse “Assim como a marca Stella Artois, que registra um crescimento das vendas acima da média, estamos bastante otimistas com o lançamento da Budweiser no Brasil”. E, segundo informações na mídia, ela será vendida por um preço 15% superior, aproximadamente, ao das "cervejas convencionais". 
 
Aí está mais um grande (e péssimo) exemplo da conduta de desinformação : a forma como a Budweiser vai ser apresentada aqui no Brasil. 
 
É, diz "RICE" no próprio rôtulo. ¬¬
Não existe cerveja mais "convencial" nos Estados Unidos (e em muitos outros lugares do mundo) do que a Bud (como é chamada por lá). Também provavelmente não exista maior ícone do estilo "American Lager" no mundo, porém, aqui no Brasil, aproveitando que é uma cerveja norteamericana, ela será tratada como uma "Premium American Lager", e isso está ERRADO. A principal diferença entre a "Standard American Lager" e a "Premium American Lager" é a quantidade de ajuntos utilizada (como arroz ou milho). Esses adjuntos e, principalmente o percentual dos mesmos, afeta diretamente as qualidades sensorais e características da cerveja. Quanto maior a utilização dos mesmos, menor a "personalidade" do produto e também o seu custo de produção. Apesar disso, a própria declaração do Nelson Jamel já nos dá a dica sobre as intenções : ele compara a Budweiser à Stella Artois (considerada uma "premium"). E é claro que, com isso, se dão o direito de cobrar 15% a mais, por um produto que não possui a mesma qualidade e que não tem os mesmos custos. 
 
A pior parte é que o prejuízo para o consumidor não se resume à parte financeira, existe também um grande prejuízo cultural pela disseminação da confusão. Imagino já os consumidores desavisados comprando a Bud e, influenciados somente pela propaganda e pelo preço, afirmando que ela é melhor que a marca x ou y; quando, na verdade, os produtos são todos iguais: "american lager". 
 
Nos guias de estilos cervejeiros (o da BJCP e o da Brewers Association), a separação entre "Standard American Lager" e "Premium American Lager" é exemplificada por seus maiores representantes. A Budweiser está listada como exemplo comercial das "Standard American Lager". Assim, tratar a cerveja como uma "premium" no mercado nacional para justificar um preço maior é uma ENGANAÇÃO contra o consumidor. 
 
Por essas e por outras desventuras das grandes cervejarias é que já sonhamos: chega(da) Budweiser no Brasil!

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